Em tempo de isolamento social, por causa da COVID-19, as celebrações culturais do 25 de Abril de 1974 concentram-se na Internet e com um convite para que se cante em casa uma das senhas históricas da revolução.
“Solta a Grândola que há em ti”, lê-se num cartaz ‘afixado’ pela Associação 25 de Abril na rede social Facebook, num apelo aos portugueses para cantarem, no sábado às 15h00, “às janelas ou às varandas”, a música “Grândola Vila Morena”, de José Afonso, seguido do hino nacional.
O apelo, que é subscrito por mais de trinta associações, confederações, sindicatos, autarquias e partidos políticos, estende-se também a quem estiver a trabalhar e ainda aos meios de comunicação, para que transmitam a música à mesma hora – coisa que vamos fazer amanhã.
Na sequência de um desafio lançado pelo primeiro-ministro, António Costa, os diretores artísticos dos Teatros Nacionais de São Carlos, São João e D. Maria II, assim como da Companhia Nacional de Bailado, convidaram a Companhia Hotel Europa a criar uma obra documental em vídeo para festejar os 46 anos da Revolução.
O vídeo “Agora Que Não Podemos Estar Juntos”, com testemunhos de pessoas que viveram a ditadura e resistiram ao fascismo, será apresentado no sábado, 25 de Abril, às 15h30, nas diversas plataformas online do Governo, para que os portugueses possam assinalar a data sem sair de casa.
Devido às restrições de distanciamento social impostas pela pandemia, a proibição de espetáculos e encerramento de espaços culturais, milhares de artistas ficaram sem possibilidade de apresentar o seu trabalho. Mas as plataformas digitais estão a ser usadas para contornar esta situação.
O Teatro Aberto, por exemplo, assinala o 25 de Abril com a divulgação de um concentro online, dedicado às canções de Fernando Lopes-Graça. O programa envolve canções tradicionais portuguesas e “Canções Heróicas”, compostas sobre autores como Arquimedes da Silva Santos, Carlos de Oliveira e José Gomes Ferreira. O concerto, que decorreu no Teatro Aberto, em Lisboa, fica disponível das 16h00 de sábado até às 24h00 de domingo.
O Museu do Aljube, em Lisboa, partilha pequenos vídeos com histórias e memórias relacionadas com a revolução, e o Centro de Teatro da Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto estreia, também no Facebook, o ‘web espetáculo de teatro’ “Olhar fraterno – Tributo a Zeca Afonso”.
Ainda no Facebook, entre hoje e domingo, 12 artistas portugueses juntam-se no Festival Liv(r)e, com atuações na página d’A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria (MPGDP).
Tendo como ponto de partida o tema da liberdade, há outros artistas que estão a preparar uma canção “especialmente para esta data”, refere a Bairro da Música, que agencia vários músicos portugueses. Entre eles estão Jorge Palma, Zeca Medeiros, Joana Alegre, Vicente Palma e Pedro Moutinho, que vão atuar nas redes sociais esta sexta e sábado.
Destaque ainda para a divulgação de um vídeo musical, no sábado, coordenado pelo Coral de Letras e pela Casa Comum da Universidade do Porto, com a participação de vários cidadãos a cantarem, individualmente, “Grândola Vila Morena”.
O Teatro Viriato, em Viseu, tem uma programação comemorativa na sexta-feira e no sábado no SubPalco, o novo palco do teatro na internet, e que conta, entre outros, com a participação de Aldina Duarte e Jorge Silva Melo.
As autarquias da Marinha Grande e da Amadora vão transmitir concertos gravados de Paulo de Carvalho, intérprete de “E depois do adeus”, outra das senhas da revolução.
A galeria de arte urbana Underdogs assinala a efeméride com uma ideia colaborativa, de projeção de imagens no espaço público. Segundo a Underdogs, convida-se “todas as pessoas que tenham um projetor vídeo em casa a projetar para a sua comunidade obras artísticas digitais de artistas que trabalham com a plataforma”, como Wasted Rita, AkaCorleone e Shepard Fairey.
Quem optar pela celebração em frente ao televisor, a RTP apresenta uma programação, a partir de hoje, para recordar “o espírito de liberdade que invadiu o país e as várias figuras marcantes da revolução”. Além de filmes e documentários, destaque para a estreia, em televisão, do filme coletivo “As armas e o povo”, documentário histórico rodado entre 25 de Abril de 1974 e 1 de maio de 1971.
Liliana Teixeira Lopes