Em protesto, a população canta diariamente a sua raiva contra o golpe militar.
A música continua a ser uma arma contra a repressão em Myanmar.
Desde que o Exército derrubou a líder civil Aung San Suu Kyi a 1 de fevereiro, a revolta tem se feito sentir, das grandes cidades até às aldeias mais isoladas.
Em todo o país, a população canta diariamente um coro de dissidência ao som de tambores e potes, enquanto jovens compositores, coreógrafos e músicos expressam criativamente a sua raiva e a resistência aos generais.
Esta semana, uma grande orquestra de jovens rebeldes chamada Geração Z MM, composta por violinos, violoncelos, trombones, percussões e uma harpa curvada, lançou uma nova canção de protesto intitulada “Revolução” no centro de Yangon.
A cantora Pan explicou à AFP: “A música que tocamos significa ‘Com a carne e o sangue da nossa juventude, vamos tentar acabar com a ditadura militar'”.
Para a jovem de 25 anos, tocar com a orquestra tem um efeito catártico num momento de tensão e angústia pelo futuro do seu país.
Myanmar tem uma longa história de cantos de manifestantes, muitas vezes expressando uma arte popular satírica chamada “thangyat” em birmanês.
Esses programas geralmente humorísticos expõem comentários políticos e movem-se contra injustiças, pequenas e grandes.
A maioria dessas canções de revolta foi proibida depois da revolta de 1988, que o Exército reprimiu violentamente, causando milhares de mortes entre os manifestantes.
A canção “Kabar Ma Kyay Bu” (“Não esqueceremos até ao fim do mundo”), emblemática dessas manifestações pró-democracia, voltou recentemente com força.
Adaptada à melodia de “Dust in the Wind” (1977), do grupo norte-americano Kansas, a versão birmanesa, que clama por revolução, é cantada novamente pelos manifestantes como um desafio à junta.
No distrito comercial da capital económica Yangon, os manifestantes dançam. Após alguns passos coreografados, um grupo de jovens aderem ao hip-hop.
No YouTube, o vídeo de uma multidão nas ruas de Yangon acompanhado pela música “They Don’t Care About Us”, de Michael Jackson, foi visto quase 40.000 vezes em cinco dias.
Noutro vídeo, um grupo punk chamado Rebel Riot mostra as suas cristas e tatuagens numa atuação intercalada com imagens de manifestações em massa enquanto cantam: “Está pronto? Lute pelos seus direitos, lute pela sua vida.”
Fonte: Yahoo Notícias / France-Presse
Liliana Teixeira Lopes