O novo acordo reduz prazos e abre a porta para uma mudança histórica.
Liliana Teixeira Lopes
A Netflix vai produzir mais filmes franceses. Um novo acordo entre os principais intervenientes na indústria de cinema com o governo francês atualiza datas de lançamento dos filmes que eram consideradas arcaicas. Está, assim, aberto o caminho para mudanças históricas na indústria cinematográfica da França.
Apesar do lançamento em simultâneo de filmes nos cinemas e plataformas de streaming ser cada vez mais habitual nos EUA (ou após 45 dias), as regras são muito mais restritivas na Europa, nomeadamente na França: as plataformas de streaming só tinham acesso aos filmes 36 meses após a sua data de estreia nas salas, um sistema de proteção da indústria do cinema que era visto cada vez mais como arcaico.
O prazo (conhecido por janela na indústria) tem sido um grande entrave por exemplo à expansão da Netflix no mercado francês: a plataforma tem mantido as suas produções originais fora das principais secções do Festival de Cannes porque a organização exige que os filmes que integrem a competição oficial pela Palma de Ouro sejam lançados nas salas de cinema em França.
Mas depois de meses de debates e conflitos, chegou-se a um acordo assinado com a Ministra da Cultura francesa Roselyne Bachelot no passado dia 24 de janeiro para criar novas regras à volta das janelas para o lançamento de filmes, que junta exibidores (cinemas), canais de televisão pagos e gratuitos, e serviços de subscrição.
Para a Netflix, o novo acordo dificilmente resolve o “problema de Cannes”, mas reduz significativamente a janela: em vez dos 36 meses, passa a ter acesso aos filmes 15 meses depois da estreia nas salas, um prazo que pode ser revisto para 12 meses após nova avaliação em 2023.
Em troca, a plataforma vai investir cerca de 40 milhões de euros para produzir 10 filmes franceses por ano, cujos direitos ficarão para os seus produtores e criadores.