Um musical em Nova Iorque conta a história da diva, mas a história à volta dos direitos de autor das composições de Nina Simone não é pacifica.

Nina Simone “renasce” num musical enquanto continua uma batalha jurídica pelo seu legado.

Laiona Michelle canta, dança e interpreta a diva afroamericana em “Little Girl Blue”, em cartaz num pequeno teatro do New World Stages, em Nova Iorque.

Durante duas horas, a atriz, que também escreveu o espetáculo, interpreta êxitos de Nina Simone, como “Feeling Good”, “Ain’t Got No – I Got Life”, “Love Me or Leave Me”, “Don’t Let Me Be Misunderstood”.

O musical explora ainda a vida de Eunice Waymon, nome verdadeiro da artista, nascida em 1933 na Carolina do Norte. Talentosa para o canto e piano clássico, teve de desistir de uma carreira profissional como pianista depois de não conseguir entrar num conservatório na Filadélfia. Magoada, culpou o racismo predominante.

O espetáculo não romantiza a provação de Nina Simone, como foram as agressões do seu marido e empresário Andrew Stroud, ou os seus problemas mentais. Também reivindica a sua radicalização. A cantora não escondeu que era contra a “não-violência”.

No entanto, na obra, que começa durante um concerto em abril de 1968, com o choque do assassinato do líder ativista negro Martin Luther King Jr, não é permitido interpretar as canções que Nina Simone compôs e que se tornaram emblemas do movimento pelos direitos civis. E isso deve-se à impossibilidade de obter os direitos autorais dessas canções. A equipa de “Little Girl Blue” culpa o advogado californiano Steven Ames Brown, que aconselhou Nina Simone no final da sua vida.

O advogado apresenta-se como “o administrador desde 1988 do seu catálogo musical”. Nina Simone, que morreu em 2003, cedeu os seus direitos a um fundo de caridade que ainda existe.

Num e-mail à agência France-Presse, Steven Ames Brown não poupa críticas a “Little Girl Blue”, um espetáculo que diz ser “fictício, superficial e que não faz justiça” à sua “amiga”. Sem avançar datas, pede aos fãs que aguardem “a peça baseada na sua autobiografia que será apresentada em Nova Iorque e Londres”. Um espetáculo que será “fiel à sua vida como ela a manifestou”, promete.

Para a equipa de “Little Girl Blue”, o problema é relativo. Nina Simone também fez a sua carreira com interpretações de canções escritas por outras pessoas, mais acessíveis em termos de direitos.

https://www.littlegirlblue.nyc/?gclid=CjwKCAjwxOCRBhA8EiwA0X8hi330_lUJKMQ0qDAT35S7b–fqkNsHYbMSiSvjGRMxm_9FYjtwlEcYBoCW24QAvD_BwE

Fonte: SAPO Mag

Liliana Teixeira Lopes