Berlim não inventou o techno, porque não há então menção a Detroit na homenagem da UNESCO? é a injustiça de décadas que está no cerne da recente decisão de celebrar a cultura de clubes da cidade.
Foi agora em Março que a Alemanha expandiu a sua lista de Património Cultural da UNESCO para incluir seis novas entradas. Entre elas, a cultura techno em Berlim que Segundo a UNESCO, é uma “compreensão do património cultural imaterial de diferentes comunidades que ajuda no diálogo intercultural e incentiva o respeito mútuo por outros modos de vida”, um pouco contraditório se considerarmos as origens do techno.
Este estilo musical é uma invenção das progressões culturais e musicais da juventude predominantemente negra em Detroit e arredores em meados dos anos 80.
Desgrudou paralelamente ao que estava a acontecer em Chicago e Nova York com o house e o hip-hop respectivamente.
Esses novos movimentos redefiniram a música e as casas noturnas no final do século XX.
No seu comunicado de imprensa, a Comissão Alemã disse que o techno “é baseado em vários desenvolvimentos musicais” e “emergiu” da “cultura do DJ” para se tornar “a banda sonora do espírito de otimismo após a reunificação alemã”. Além dessas afirmações serem ousadas, não mencionam Detroit ou os fundadores do gênero.
A diáspora africana é diretamente responsável pela maior parte das inovações musicais do século XX – mas não saberíamos disso olhando para a lista da UNESCO.
Capoeira do Brasil, o Reggae da Jamaica e o Merengue da República Dominicana são as únicas heranças de ascendência africana no hemisfério ocidental a fazer parte do grupo.
É importante notar que os EUA ainda não aprovaram a Convenção da UNESCO sobre o Património Cultural Imaterial de 2003, o que significa que, países como a Austrália e o Canadá, não podem apresentar inscrições para a homenagem. Até que os EUA assinem o acordo, o techno de Detroit poderá nunca ser reconhecido pela UNESCO.
Assim sendo o facto de a Comissão Alemã não ter mencionado Detroit no seu comunicado de imprensa é injusto.
House, hip-hop e techno são uma continuação da tradição da soul music que inclui blues, jazz, gospel, R&B e rock & roll.
Todos estes géneros têm origem na cultura afro-americana e estão intrinsecamente ligados à situação e ao estatuto dos povos africanos sob um sistema global que os desumanizou consistentemente.
Quando se trata da situação difícil dos afro-americanos, o fiasco da UNESCO é mais um deslize numa longa série de injustiças.
Onde estaria o techno berlinense se não fosse por Underground Resistance, Mike Huckaby ou Jeff Mills?
Esta não é só a opinião de Tajh Morris.
Mariana Cruz