Albert Uderzo morreu esta terça-feira, aos 92 anos, vítima de ataque cardíaco, confirmou a sua família.
Liliana Teixeira Lopes
Aos 92 anos morreu o co-autor da banda desenhada que marcou gerações. Deixa como legado as aventuras de Astérix e a batalha contra um vilão chamado Coronavírus.
Albert Uderzo nasceu em Fismes, França, e desde muito novo que mostrava que sabia desenhar. No seu percurso, e antes do início da II Guerra Mundial, passou no exame de admissão para a Escola de Engenharia Francesa, mas mais tarde trocou as ferramentas que o tornariam mecânico de aviões pelo lápis que o levou a desenhar a banda desenhada “Astérix”, juntamente com com René Goscinny.
O co-criador de uma das bandas desenhadas mais emblemáticas não foi uma das vítimas do COVID-19. Mas o herói que desenhou no papel, Astérix, enfrentou um vilão que faz parte desta família de vírus. Ainda mal se sabia o que estava por vir quando em 2017 foi publicada a história “Astérix e a Transitálica”, onde aparece a personagem chamada Coronavírus. A história já não teve a participação de Uderzo, já que foi escrita por Jean-Yves Ferri e desenhada por Didier Conrad.
Esta é mais uma das aventuras de Astérix e Obélix, que vão à descoberta da Itália antiga (outra coincidência, uma vez que este é um dos países onde o COVID-19 atacou com maior expressão logo a seguir à China). Só que nesta história é organizada uma corrida de cavalos pelo senador Lactus Bifidus com o objetivo de abafar um crime de corrupção que tinha sido descoberto e ainda de provar que as estradas romanas eram de qualidade.
Astérix e Obélix entram na corrida e, para isso, compram uma carroça de madeira e roubam dois cavalos aos romanos. Nesta corrida, além dos outros adversários, o Coronavírus é o inimigo que representa os romanos. Só que este acaba por desistir quando descobre que Bacillus, o co-piloto, tinha feito batota e é de imediato substituído por Júlio César que domina Itália e as suas Legiões.
A história acaba com a derrota do Coronavírus, o mesmo desfecho que gostávamos que acontecesse com a pandemia que domina o mundo.
“Astérix” tornou-se numas das séries de banda desenhada mais populares de todos os tempos. Publicadas inicialmente na revista “Pilote” e posteriormente em álbum, as aventuras de Astérix tornaram-se um verdadeiro fenómeno de popularidade: ao longo das décadas, venderam-se cerca de 400 milhões de livros do guerreiro gaulês, o que o tornou a BD europeia mais vendida de sempre.
Ao mesmo tempo, principalmente nas décadas de 60 e 70, com a sua paródia inteligente e acutilante aos costumes da época, a série saiu das baias do público infanto-juvenil e tornou-se uma referência entre a intelectualidade europeia, sendo apreciada e discutida nas publicações de referência.
Além de Astérix e Obélix, entre as personagens que povoam o imaginário criado por Uderzo e Goscinny contam-se ainda o druída Panoramix, o bardo Cacofonix e o pequeno cão Ideiafix, entre muitas outras.
O irredutível guerreiro gaulês apareceu pela primeira vez em Portugal, nas páginas da revista Foguetão, no dia 04 de maio de 1961. Foi publicado ainda em revistas como Cavaleiro Andante, Zorro, Tintin, Flecha 2000 e Jornal da BD.
Portugal foi o primeiro país não francófono a publicar as aventuras do pequeno gaulês e do seu amigo Obélix, na defesa da irredutível aldeia contra as tropas romanas de Júlio César, com a ajuda de uma poção secreta.
Em 1967, foi editado o primeiro álbum de Astérix em Portugal: “Astérix, o Gaulês”.
Nas últimas décadas, o fenómeno em redor de Astérix não esmoreceu: os filmes para cinema multiplicaram-se (além das produções em animação estrearam-se quatro filmes em imagem real de imenso sucesso, com Gérard Depardieu como Obélix) e em 1989 abriu em França o Parc Astérix, que atrai anualmente mais de dois milhões de visitantes.
As histórias sobre a pequena aldeia gaulesa rebelde, que resiste à Roma do imperador Júlio César, venderam perto de 400 milhões de exemplares em todo o mundo e estão traduzidas em mais de 107 línguas e dialetos, incluindo a língua mirandesa.
O mais recente livro de Astérix saiu em outubro de 2019, com o título “A filha de Vercingétorix”, uma jovem adolescente que se juntou a Astérix e Obélix.
Em Portugal, a editora ASA tem sido nos últimos anos a responsável pela publicação das histórias de Astérix.
Uderzo morreu esta terça-feira, 24 de março, aos 92 anos, vítima de ataque cardíaco, confirmou a sua família.
“Albert Uderzo morreu enquanto dormia na sua residência de Neuilly (nas proximidades de Paris) vítima de um ataque cardíaco, sem relação com o coronavírus. Estava muito cansado há várias semanas”, disse Bernard de Choisy, genro de Albert Uderzo à agência AFP.
Fonte: Lusa/Magg/SAPO Mag