O trompetista morreu no sábado mas deixa para trás um legado rico em que o expoente máximo foi a criação do estilo musical “Fourth World”.
O músico norte-amerciano Jon Hassell, criador do estilo musical do “quarto mundo”, e colaborador de bandas como os Talking Heads, o grupo Kronos Quartet, ou artistas como Peter Gabriel, David Sylvian, Ry Cooder e Brian Eno, morreu no sábado, aos 84 anos, anunciou a família nas redes sociais.
Pioneiro do estilo estético a que chamou “Fourth World” (“quarto mundo”), uma mistura do som vocal tradicional dos índios norte-americanos adaptado ao trompete, com técnicas eletrónicas avançadas, Hassell faleceu de complicações de saúde que duravam há um ano, segundo a família.
Na primavera de 2020, o trompetista – nascido em 1937 em Memphis, nos Estados Unidos – partiu uma perna numa queda durante gravações no seu estúdio, e passou quatro meses no hospital, isolado, devido à pandemia.
Para trás fica uma obra visionária e influente que foi do jazz à música ambiental, cruzando fronteiras e juntando a tecnologia à tradição.
Hassell estudou em Nova Iorque, na Eastman School of Music, da Universidade de Rochester, e depois mudou-se para a Alemanha, onde estudou em Colónia, com Karlheinz Stockhausen, figura de renome da música electroacústica. Foi aí que conheceu Irmin Schmidt e Holger Czukay, que mais tarde viriam a formar os Can, banda pioneira do chamado krautrock.
Depois de regressar aos Estados Unidos, Jon Hassell colaborou com o compositor minimalista Terry Riley e juntou-se a La Monte Young, que nos anos 1960 e 1970 liderou o Theatre of Eternal Music, grupo vanguardista de que também fazia parte John Cale, dos Velvet Underground. Hassell viria ainda a estudar com Pandit Pran Nath, mestre indiano do estilo de canto “kirana gharana”, cujo trabalho foi uma fonte de inspiração para o americano.
“Vernal Equinox” foi o álbum de estreia de Jon Hassell, em 1978, no qual propunha uma visão musical estética própria, que descrevia como “um som unificador primitivo/futurístico, combinando aspetos do mundo étnico, com técnicas eletrónicas avançadas”.
Numa entrevista ao jornal britânico The Guardian, no ano passado, Hassell dizia que se sentia orgulhoso de ter influenciado “jovens gerações de músicos que não traçavam fronteiras entre estilos globais de música”.
Fonte: SAPO 24 / Público / Blitz
Liliana Teixeira Lopes