A organização pretendia que este ano a política não tomasse conta do debate… mas vai ser difícil.
Liliana Teixeira Lopes
O Festival de Cinema de Berlim começou na quinta-feira, e na edição deste ano pretendia impedir que a política tomasse conta do debate.
Lembro que no ano passado o festival de cinema europeu viu a sua edição de 2024 ser ofuscada por uma polémica sobre os ataques de Israel a Gaza, que deixou uma marca em muitos cineastas.
Este ano, as eleições nacionais da Alemanha – que as sondagens sugerem que poderão trazer ganhos sem precedentes para o partido de extrema-direita AfD – ocorrem no último domingo do festival, a 23 de fevereiro.
A nova diretora do festival, Tricia Tuttle, disse que a Berlinale não “se esquivaria” dos acontecimentos atuais, mas espera que eles não eclipsem totalmente as histórias no ecrã.
Mas não vai ser fácil.
“Das Licht” (“A Luz”), do realizador alemão Tom Tykwer, apresenta uma família alemã de classe média cuja vida é transformada pela sua misteriosa governanta síria. Este é um dos filmes em destaque na edição deste ano que aborda a questão da emigração que tem estado em foco na campanha eleitoral alemã.
“Seria bom se os principais pontos de debate fossem os filmes que serão exibidos, mas não creio que esse seja o mundo em que vivemos agora”, disse à France-Presse (AFP) Scott Roxborough, chefe da secção europeia da revista The Hollywood Reporter.
O presidente dos EUA, Donald Trump, e a sua agenda de direita radical estão na mente de todos, disse, assim como Elon Musk, que apoia a AfD, e a ascensão da Inteligência Artificial (IA).
Seja como for, a seleção de filmes para Berlim permanece fiel à missão do festival de apresentar cineastas artísticos independentes de todo o mundo, com uma pitada de estrelas.

O mais recente filme do realizador de Hollywood Richard Linklater, protagonizado por Ethan Hawke, “Blue Moon”, está na competição oficial, 11 anos depois de Linklater ganhar o Urso de Prata de Berlim de Melhor Realização por “Boyhood”.
O realizador sul-coreano Bong Joon-ho vencedor dos Óscares com “Parasitas” apresenta fora da competição o seu novo filme “Mickey 17”, com Robert Pattinson, enquanto a atriz britânica Tilda Swinton recebe um prémio pela carreira.
Jessica Chastain, Marion Cotillard e Timothée Chalamet adicionarão o rasto das estrelas, enquanto o júri será liderado pelo realizador norte-americano Todd Haynes.