No final da quarta edição dos Encontros do Cinema Português, em Lisboa, debateu-se o estado do cinema português.
O cinema português precisa de espectadores, mas também de estratégia, foi a conclusão de um debate que aconteceu na quarta-feira em Lisboa. Assim, para ter mais espectadores, o setor do cinema português precisa de ter mais apoios, mais filmes, estratégia e literacia cinematográfica, mas não há milagres, disseram vários agentes do setor.
De acordo com a agência Lusa, no final da quarta edição dos Encontros do Cinema Português, em que foram mostrados excertos de mais de 40 produções portuguesas, inéditas e em diferentes fases de produção, um grupo de produtores, exibidores e distribuidores debateu o estado do cinema português a partir de uma pergunta: “Como atingir um milhão de espectadores?”.
Nas décadas recentes, desde que o ICA – Instituto do Cinema e Audiovisual compila dados estatísticos sobre o setor -, a única ocasião em que o cinema português rondou um milhão de espectadores foi em 2015.
Nesse ano, os filmes de produção nacional somaram 946 mil espectadores, o que representou 6,5% da quota de mercado, “o valor mais alto desde 1975, ano a partir do qual o ICA mantém registos de exibição”, lê-se no anuário estatístico desse ano, compilado pelo organismo.
No debate de quarta-feira, tendo presente essa meta de um milhão de espectadores, o presidente do ICA, Luís Chaby Vaz disse que “aumentar a quota é um objetivo nobre”, mas não passou a receita para o concretizar.
José Fragoso, diretor de programas da RTP, tem uma visão otimista da atualidade, dizendo que há criatividade no setor.
Já o produtor Luís Urbano falou de “um problema crónico” no cinema português, de precariedade das produtoras nacionais, “sem condições de sustentabilidade para lá de três ou quatro meses” de planeamento, apelando a uma “política pública” de defesa do setor.
O mesmo pediu a produtora Pandora da Cunha Telles, para quebrar “a história de que os portugueses não veem cinema português” e “mudar padrões na programação, no financiamento”.
Elsa Mendes, coordenadora do Plano Nacional de Cinema, e Manuel Damásio, da Universidade Lusófona, têm uma opinião em comum: Para ter mais portugueses a verem cinema feito por portugueses é preciso incluir esta arte no sistema educativo.
No debate, a empresa NOS, líder do mercado da exibição e da distribuição cinematográfica e coorganizadora destes Encontros do Cinema Português, anunciou que vai criar, no complexo de cinemas NOS Alvaláxia, em Lisboa, uma sala em exclusivo para exibir cinema português, entre longas e curtas-metragens, ficção e documentário.
Em resposta, do lado da audiência, o produtor Paulo Branco, que tem vindo a encerrar algumas das salas de cinema que explorava como exibidor, recusou a colocação de filmes portugueses em salas-“gueto” e, em jeito de provocação, deixou uma proposta diretamente à NOS: “Pagar cinco euros” a cada espetador para ir ver cinema português.
Fonte: Lusa