O realizador faleceu aos 78 anos, alguns meses depois de anunciar que não podia sair de casa por sofrer de enfisema pulmonar.
Morreu o realizador norte-americano David Lynch, aos 78 anos. A notícia foi dada pela família através de uma emotiva partilha no Facebook, na quinta-feira, 16 de janeiro.
“É com profundo pesar que nós, a sua família, anunciamos o falecimento do homem e artista, David Lynch. Gostaríamos de ter um pouco de privacidade neste momento. Há um grande buraco no mundo agora que ele já não está aqui. Mas, como ele diria: ‘Mantém os olhos no donut e não no buraco’. Está um lindo dia com sol dourado e céu azul por todo o lado”, é escrito na publicação.
Lynch revelou, em 2024, sofrer de enfisema pulmonar, por ter “fumado durante muito tempo”. Esta doença, que diminui a quantidade de oxigénio que é transportado para o sangue dificultando a respiração, impedia-o de sair de casa.
O criador da série “Twin Peaks” nasceu em 20 de janeiro de 1946, em Missoula, Montana, nos Estados Unidos. Mudou-se frequentemente com a família quando era criança. Tinha um talento precoce para as artes visuais e uma paixão por viagens e descobertas que o levaram a matricular-se na Academia de Belas Artes da Pensilvânia e a encetar o caminho no cinema como produtor de curtas-metragens.
Desde a década de 1960, estendeu também a prática artística à música, à pintura, ao vídeo experimental e à fotografia. Mas o seu trabalho foi sobretudo reconhecido em cinema e televisão, em particular a partir de “Eraserhead” (1977), origem da linguagem particular do cineasta, e de filmes que se sucederam como “O homem elefante” (1980), um do seus primeiros sucessos de grande dimensão, sem ceder aos parâmetros comerciais de Hollywood; “Duna” (1984), na altura um fracasso comercial que acabou por criar o seu próprio culto, e “Veludo azul” (1986), o thriller para lá das cercas brancas das pequenas cidades americanas de que “Twin Peaks” se prefigura como um “‘spin off’ espiritual”, como escreve o jornal The New York Times, com o suspense sobre a morte de Laura Palmer a dominar os episódios originais de 1991-92.
Nos anos seguintes aconteceriam filmes como “Um coração selvagem” (1989), palma de ouro no Festival de Cannes de 1990; “Lost highway: Estrada perdida” (1997) e “Mulholland Drive” (2001), a obra-prima que o jornal The New York Times definiu como “um venenoso cartão de visita para Hollywood”, e a derradeira longa-metragem, “Inland Empire” (2006).
As suas produções, que misturam elementos de terror, filme noir e policial, vão buscar elementos ao surrealismo europeu, mas também são capazes da mais despojada linha narrativa como aconteceu com “Uma História Simples” (1999).
Numa entrevista há vários anos e falando sobre os seus filmes, David Lynch confessava que muitas vezes os seus sonhos e pesadelos eram matéria de inspiração para os seus trabalhos.
Com algumas das obras mais originais, enigmáticas e surrealistas, no cinema e na TV, durante cinco décadas, que lançaram um estilo cinematográfico conhecido como “lynchiano”, David Lynch era um dos principais cineastas saídos da sua geração, cuja influência se prolongou pela música, pintura, fotografia, vídeo experimental e muitos outros interesses.
David Lynch esteve em Portugal em 2007, quando foi homenageado com uma retrospectiva na primeira edição do atual Lisbon Film Festival (Leffest), do produtor Paulo Branco. Na altura, Lynch aproveitou para fazer uma conferência sobre meditação transcendental, uma técnica que praticava desde os anos 1970 e que o levou a criar uma fundação.
Em Cannes, David Lynch conquistou a Palma de Ouro em 1990, com “Um coração selvagem”, e o prémio de melhor realizador em 2001, com “Mulholland Drive”.
O Festival de Veneza deu-lhe o Leão de Ouro de carreira em 2006.
Nunca ganhou um Óscar da Academia, mas recebeu nomeações por “O Homem Elefante”, “Veludo Azul” e “Mulholland Drive”. Em 2019, recebeu um Óscar honorário pelo conjunto da obra.
David Lynch, realizador e “homem dos sete ofícios”, faria 79 anos na próxima segunda-feira, 20 de janeiro.
Fonte: Lusa
Liliana Teixeira Lopes