O documentário único de Manuela Serra estreia finalmente em sala de cinema.
Liliana Teixeira Lopes
Cerca de 40 anos depois de ter sido concluído “O Movimento das Coisas” estreia finalmente nas salas de cinema nacionais.
O documentário assinado por Manuela Serra começou a ser filmado em 1979 e foi terminado em 1985, mas nunca chegou a estrear nos cinemas. Isto, apesar da obra ter já passado por vários festivais e até sessões especiais. Um obra única, mesmo literalmente, pois é o primeiro e último filme de Manuela Serra. Tudo porque Manuela Serra, magoada com o cinema português, resolveu abandoná-lo a um certo momento para nunca mais voltar.
No pós-25 de Abril, Manuela Serra, chegada há pouco a Portugal após estudos de cinema em Bruxelas, trabalha como assistente de montagem de Rui Simões e funda a cooperativa de cinema “Virver”. Em 1978, parte para Lanheses, aldeia do concelho de Viana do Castelo, com uma a missão de cineasta: olhar o tempo a passar.
“O Movimento das Coisas” é um filme sobre o tempo, de uma prova do tempo. São histórias de quotidiano e de silêncio.
Numa aldeia do Norte, há um dia de trabalho atravessado por três famílias: quatro velhas, o campo, o pão, as galinhas, e, a lembrar-nos histórias antigas de gestos simples e lentos que substituem palavras.
Uma família de dez filhos numa quinta mergulha na largueza do tempo, no trabalho do pai que corta uma árvore.
Mais longe, a água do rio habitado por gente, numa barca, o sol, e o largo da aldeia, a ponte em construção, a varanda, a refeição, a densidade e o misticismo ao domingo, a missa e a feira: ritualizada ao sábado.
É neste cenário que se move Isabel, também, com os olhos postos no futuro, para lá dos outros em que o sentido da vida é apenas viver.
O tempo atravessa o nascer e o pôr-do-sol.