Um filme sob e “trabalho” e um documentário sobre um realizador censurado são algumas das novidades nas salas.

Liliana Teixeira Lopes

A realizadora portuguesa Laura Carreira considera que o filme “On Falling”, que se estreia esta semana nas salas de cinema portuguesas, pode ser um contributo e um alerta da sua geração sobre o valor e a importância do trabalho.

“A imigrante Portuguesa Aurora trabalha como preparadora e repartidora de encomendas num centro de distribuição na Escócia”.

“Presa entre os limites do local de trabalho e a partilha de casa, Aurora luta para resistir à solidão e à alienação, enquanto tenta preservar a sua identidade. Ambientado num cenário dominado pela Gig Economy, controlada por algoritmos que nos afastam uns dos outros, “On Falling” explora a luta vital para encontrar significado e uma particular conexão humana no mundo contemporâneo”, é o que se lê na sinopse do filme.

“On Falling” é a primeira longa-metragem de ficção, numa coprodução entre Portugal e o Reino Unido, e foi rodada na Escócia com atores e não-atores, numa história na qual volta a abordar o mesmo tema, o trabalho, que a tem ocupado desde as curtas-metragens “Red Hill” (2018) e “The Shift” (2020).

Outra das novidades nos cinemas nacionais é “Caixa de Resistência”, um documentário de Concha Barquero Artés e Alejandro Alvarado Jódar.

Após a sua morte, ao fim de um longo exílio em Portugal, Fernando Ruiz Vergara deixou dezenas de esboços de filmes que nunca chegou a realizar. “Rocío”, obra amaldiçoada após uma censura judicial em plena democracia espanhola, foi a única que o cineasta andaluz pôde assinar.

O documentário “Rocío”, feito em redor da romaria com o mesmo nome na Andaluzia, foi proibido de ser integralmente exibido ao público em Espanha pelos tribunais por causa de dois minutos em que um habitante da localidade de Almonte denunciava “um dos perpetradores da repressão fascista no início da guerra civil em Espanha”, nas palavras de Concha Barquero Artés.

Em causa está a morte de 100 pessoas da localidade, de que o relato reproduzido no documentário culpava um autarca de época.

Em “Caixa de Resistência” Concha Barquero Artés e Alejandro Alvarado Jódar dão, assim, continuidade aos filmes sonhados por Fernando como gesto de resistência.