“Mank” disponível na Netflix

Liliana Teixeira Lopes

Com “Mank”, a Netflix mergulha na Era de Ouro do cinema com um filme que pode vir a ser candidato aos Óscares.

A grande aposta da Netflix para a temporada de prémios é um exercício académico que tenta decifrar a quem pertence verdadeiramente o talento artístico do lendário filme “Citizen Kane”.

Realizado por David Fincher, autor que está por detrás de algum dos “thrillers” mais admirados do cinema norte-americano contemporâneo (como “Se7en”, “Clube de Combate” e “Zodiac”), parte-se aqui de uma teorização: “Mank” é um exercício sobre um debate constante quanto à verdadeira genialidade por detrás de uma obra-prima do cinema.

No centro de esta questão está “Citizen Kane – O Mundo a Seus Pés”, realizado em 1941 por Orson Welles, na altura com apenas 24 anos… Este seria, nada mais, nada menos, aquele que viria a ficar para a História como o “Melhor Filme de Todos os Tempos” e cuja sua realização esteve e continua a estar rodeada de mistério, conspirações e disputas de custódia artística e criativa.

A genialidade é atribuída geralmente a Orson Welles, mas as coisas podem não ser assim tão simples, pois em “Citizen Kane” também nos deparamos com a câmara de Gregg Toland (cuja técnica da profundidade de campo traria uma inovação estética a Hollywood) ou a edição de Robert Wise (mais tarde, o realizador de obras bem conhecidas como “West Side Story”, “Música no Coração” e “Star Trek”). Mas foi, no entanto, no guião escrito a meias com o lendário dramaturgo e argumentista Herman J. Mankiewicz, que se suscitou toda esta vontade de desconstruir a genialidade de Welles por parte do argumentista de “Mank”, Jack Fincher, o pai do realizador, falecido em 2003.

Será que o responsável pelos alicerces de “Citizen Kane” é, afinal, Mankiewicz e não do génio sobredotado Welles?

Em “Mank”, o papel do argumentista desbocado e capaz de se conduzir com inspiração mesmo alcoolizado, Herman J. Mankiewicz foi entregue ao brilhante Gary Oldman que veste na perfeição a personagem.