O balanço feito por alguns festivais, o que de melhor se fez no cinema e o que de melhor se encontrou nos serviços de streaming.
Olhamos para o cinema, mas antes de falar dos melhores do ano, resolvemos falar (na altura em que decorreram) com os organizadores de alguns dos melhores festivais de cinema e quisemos saber como vai o estado da arte.
Ao fim de quase dois anos de pandemia, muitas coisas coincidem, mas há também diferenças. É o caso do MOTELx. Falámos com um dos diretores, João Monteiro, que nos disse que apesar de ter sido um ano complicado, o MOTELx não foi dos mais afetados.
Já no caso do DocLisboa, o que se reflete é a força de querer fazer cinema, apesar de tudo, que, como nos contou uma das diretoras do festival, Joana Sousa, acabou por sobressair.
Por seu lado, Carlos Ramos, da direção do IndieLisboa, reafirma tudo o que já aqui foi dito e projeta mesmo o futuro. A pandemia veio mudar a forma de organizar os festivais.
Está feito o retrato. Mas porque falamos de melhores do ano, e nesta ronda, acabamos com o IndieLisboa, apesar de ser 2020, “Sisters With Transistor”, de Lisa Rovner, é um documentário muito bom e foi ali apresentado em 2021.
Este ano foi atípico no que respeita às estreias de cinema em sala. Tudo por causa da pandemia.
Durante alguns meses não existiram. Houve salas que fecharam definitivamente. Depois aconteceram estreias, mas muitas, de forma tímida. Tão tímida que até acabaram por passar quase despercebidas.
Foi o caso de filmes, que mereciam destaque, como “Marighella”, de e com Wagner Moura e ainda Seu Jorge na pele de Carlos Marighella e que se baseia nos últimos cinco anos do ex-deputado, poeta e guerrilheiro brasileiro, que durante a ditadura militar liderou um dos maiores movimentos de resistência ao governo da época.
Ou ainda “O Espião Inglês”, um filme de Dominic Cooke e com Benedict Cumberbatch, que conta a história verídica de um empresário que, quase involuntariamente, acaba por se envolver num caso de espionagem.
Houve também estreias que tiveram o devido destaque de filmes que realmente foram alguns dos melhores do ano, como foi o caso dos portugueses “Diários de Otsoga” de Miguel Gomes e Maureen Fazendeiro, ou “A Metamorfose dos Pássaros”, de Catarina Vasconcelos. Duas obras de grande valor que têm vindo a arrecadar prémios por todo o mundo.
2021 acabou por também ser o da estreia de filmes muito aguardados como a mais recente aventura de “007 – Sem Tempo para Morrer”, de Cary Fukunaga e com Daniel Craig, pela última vez, na pele do “agente secreto mais conhecido do mundo”, James Bond.
O mesmo aconteceu com “Dune”, de Denis Villeneuve, com Timothé Chalamet. Uma espera que valeu a pena. Um filme bem feito, bem interpretado, esteticamente belo e até mais fiel aos livros de Frank Herbert, do que o original de culto de David Lynch.
Destaque ainda para “Matrix: Resurrections”, realizado por Lana Wachowski e com Keanu Reeves e Carrie-Anne Moss de volta. Não tenho a certeza que seja um dos melhores do ano, mas é sem dúvida um dos mais aguardados.
O streaming foi, de algum modo, o que mais beneficiou com a pandemia e houve muita coisa boa a surgir. Tanto filmes, como séries ou documentários. Assim, o difícil, ao contrário de tudo o resto, é escolher.
Houve séries, já feitas e terminadas há alguns anos, que voltaram a mexer com as audiências, como “Halt and Catch Fire”, “The Wire”, “Friends” ou, agora no final do ano, “Sete Palmos de Terra”.
Mas é impossível ignorar a terceira temporada de “Succession”, uma das mais aclamadas, não só pela crítica, mas também (e principalmente) pelo público. “Succession” conta as guerras internas de uma família disfuncional, detentora de um poderoso império dos meios de comunicação. Com destaque para as interpretações de Brian Cox e Jeremy Stone.
No entanto, as chamadas minisséries (aquelas com um número limite de episódios, restritas a uma única temporada) foram as que mais se destacaram quanto a mim. Entre elas está a premiada “Mare of Easttown”, com Kate Winslet, com uma bem contada e interpretada história policial numa pequena cidade dos EUA, com problemas do século XXI.
Outra é a britânica “The North Water” com Colin Farrell e Jack O’Connell, com excelentes interpretações. Uma história no ponto mais agreste do Polo Sul, com o assassino à solta a espalhar o terror.
Destaque ainda para “Dopesick”, que dá mais um excelente papel Michael Keaton, sobre o caso de um medicamento, um opiáceo, que foi publicitado de forma enganosa, como não provocando viciação.
Destaque também a documentários, como a série assinada por Spike Lee “NYC Epicenters”, que acompanha as feridas e as curas de Nova Iorque ao longo das últimas duas décadas, da pandemia ao 11 de Setembro.
E também à série documental da HBO “Music Box” e ao episódio “DMX: Don’t Try to Understand”, excelente, sobre um ano da vida do, já desaparecido rapper DMX, quando este saiu da prisão em 2019.