Um novo estudo explica, através da Física, como isso acontece.
Já se sabia que a escuta da Sonata para Dois Pianos em Ré Maior de Mozart reduz a ocorrência de ataques epiléticos, podendo ser usada como forma de prevenção destes eventos. Mas uma explicação sobre o porquê de isso acontecer vem da Física, revela novo estudo.
Quem já passou por um episódio de epilepsia descreve-o como uma espécie de curto-circuito cerebral. O que não está muito longe do fenómeno fisiológico: descargas elétricas que podem causar confusão mental temporária e o clássico ataque epilético – com convulsões e perda de consciência. Apesar de haver muitos medicamentos no mercado e até intervenções cirúrgicas para evitar estes episódios, nenhuma solução é cem por cento eficaz. Daí que médicos e cientistas continuem a procurar outras soluções.
Já há muito tempo que é conhecida a relação entre música e epilepsia, um assunto tratado com detalhe no livro do neurologista Oliver Sacks, Musicofilia. Nalgumas situações a música pode desencadear um ataque, noutras pode prevenir. Os cientistas têm tentado esclarecer quais as músicas que têm um efeito positivo e qual o mecanismo.
No ano passado, um trabalho do Instituto Krembil do Cérebro mostrou que a Sonata para Dois Pianos em Ré Maior, de Mozart, reduzia a ocorrência de ataques epiléticos. O mesmo já não acontecia se os pacientes ouvissem uma versão remasterizada de forma aleatória da mesma composição.
Até agora, a melhor explicação para este efeito positivo da música relacionava a sobreposição entre as áreas cerebrais ativadas durante a escuta e as alteradas pela doença. Um estudo revelado no sábado, 19 de junho, durante o 7º congresso da Academia Europeia de Neurologia, veio esclarecer esta questão: são as propriedades acústicas da música – portanto, os aspetos relacionados com a física – que acabam por ter este resultado.
Uma em cada duzentas pessoas sofre de epilepsia, sendo que presentemente seis milhões de europeus a viver com a doença. Os investigadores sugerem, por isso, que se continue a investigar o efeito da música na redução dos episódios, mantendo o foco nas propriedades acústicas e no seu efeito preventivo não invasivo.
Liliana Teixeira Lopes