O Palacete dos Condes Burnay foi renovado e tem agora uma nova biblioteca e um centro cultural.
Uma nova biblioteca, que é também um centro cultural de cariz comunitário, destinado a todas as idades, nasceu em Alcântara, Lisboa, no Palacete dos Condes de Burnay, recuperado com uma obra de arquitetura que recebeu uma menção honrosa.
Complementado com uma peça escultórica do artista plástico José Pedro Croft, no jardim, que dialoga com o interior e com os livros, o antigo palacete do século XIX abriu ao público ontem, segunda-feira, dia 5 de outubro, com valências que vão do cinema ao ar livre, até à universidade sénior, passando por teatro, por um coro, por ofícios e por uma galeria de arte.
Na génese da sua requalificação e transformação em biblioteca esteve sempre a ideia de trabalhar as memórias republicana e antifascista, inerentes à vivência do bairro e à própria história do palacete.
No início do século XX, Alcântara – bairro operário e popular – era um dos principais centros republicanos de Lisboa, onde se conspirava contra a monarquia e se planeavam formas de instaurar a república em Portugal.
O edifício, que integrava o património imobiliário da família Burnay, abriu as portas à comunidade no início do século XX, tendo albergado, na década de 1930, a Escola Comercial Ferreira Borges.
Já durante a ditadura salazarista, Alcântara continuava a acolher grupos revolucionários, reprimidos pelo regime.
E foi em dezembro de 1961, quase em frente à escola, que o artista plástico e militante antifascista José Dias Coelho foi assassinado pela PIDE, polícia política da ditadura, um crime denunciado por José Afonso na música “A morte saiu à rua”. Para que esse crime não fosse esquecido, e para manter a memória do artista, a rua ganhou o seu nome, depois do 25 de Abril de 1974.
Para transformar o palacete em biblioteca, o edifício foi alvo de um projeto de requalificação da arquiteta Margarida Grácio Nunes, que recebeu uma menção honrosa de Melhor Intervenção de Impacto Social do Prémio Nacional de Reabilitação Urbana 2020.
A intervenção teve em atenção a recuperação da traça original, mas, ao mesmo tempo, procurou trazer “mais luz para a biblioteca, recuperar os frescos no interior e introduzir um design contemporâneo”, explicou à agência Lusa a vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pintp.
Esta é a 18ª biblioteca a integrar na Rede de Bibliotecas de Lisboa, apesar de ser considerada uma biblioteca “âncora”, porque “estende o raio de ação para além do bairro onde está inserida”.
Além disso, a biblioteca tem a possibilidade de devolução de livros 24 horas por dia, com um dispositivo na parede que permite que as pessoas devolvam quando quiserem, acrescentou a vereadora.
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Fonte: SAPO 24
Liliana Teixeira Lopes