A questão arrasta-se há anos e envolve declarações e letras da canções de Pablo Hasél, um rapper catalão, que questiona a liberdade de expressão em Espanha.
Dezenas de agentes da polícia regional catalã Mossos d’Esquadra entraram esta manhã na reitoria da Universidade de Lérida para prender o rapper Pablo Hasél, condenado a nove meses de prisão por glorificação do terrorismo e injúrias à monarquia.
O prazo para Hasél se entregar voluntariamente para cumprir a pena terminou na sexta-feira.
Hasél trancou-se no edifício da reitoria da Universidade de Lérida na segunda-feira “para dificultar o mais possível a vida à polícia” antes da sua prisão iminente, disse à Efe, com o objetivo de tornar público o que considera ser um “ataque muito grave” contra a liberdade de expressão.
Na segunda-feira, a Audiência Nacional voltou a rejeitar a suspensão da execução da pena de prisão do cantor, lembrando que em 2017 foi condenado por um crime de resistência ou desobediência à autoridade, e em 2018 por transgressão.
A 8 de fevereiro, mais de 200 personalidades, incluindo o realizador Pedro Almodóvar e o ator Javier Bardem, assinaram um manifesto pedindo a libertação do rapper e a alteração da lei, divulgado no jornal El País.
Escreveram: “A perseguição a rappers, autores de twits, jornalistas, bem como de outros representantes da cultura e da arte, por tentarem exercer o seu direito à liberdade de expressão, converteu-se numa constante”.
“O Estado espanhol passou a encabeçar a lista de países que mais represálias lançou contra artistas pelo conteúdo das suas canções. Agora, com a detenção de Pablo Hasél, o Estado espanhol está a equiparar-se a países como a Turquia ou Marrocos”, criticaram.
Os factos pelos quais o rapper foi condenado remontam a 2014 e 2016, quando publicou uma canção no YouTube e dezenas de mensagens no Twitter, acusando as forças da ordem espanholas de tortura e homicídios.
Numa das mensagens, escreveu, ao lado de uma fotografia de Victoria Gómez, membro dos GRAPO – Grupos de Resistência Antifascista Primeiro de Outubro, uma organização considerada terrorista: “As manifestações são necessárias, mas não suficientes, apoiemos aqueles que foram mais longe”.
O cantor também acusou o rei emérito Juan Carlos e o filho, Felipe VI, de vários crimes, incluindo homicídio e desvio de fundos.
O caso motivou manifestações a favor do rapper e provocou incómodo no Governo, de maioria socialista.
Na segunda-feira, o executivo espanhol prometeu “uma reforma” legislativa para que os “excessos verbais cometidos no âmbito de manifestações artísticas, culturais ou intelectuais” não sejam punidos criminalmente.
Fonte: Lusa
Liliana Teixeira Lopes